Do Desastre ao Triunfo

variação, ondulação e vibração.

segunda-feira, janeiro 07, 2013

2013 em filmes e pequenas notas

#1 Fim dos tempos (Shyamalan, 2008) 7/10
a natureza assassina cede ao amor.

#2 Arca russa (Sokurov, 2002) 7,5/10
divertimentos de uma busca pela identidade russa.

#3 Essential killing (Skolimowski, 2010) 7/10
minimalismo suado e sangrento.

#4 O pai dos meus filhos (Hansen-Løve, 2009) 4,5/10
o cinema pode matar... de tédio.

#5 A viagem de Chihiro  (Miyazaki, 2001) 9/10
reunião surrealista de espíritos coloridos e humanos aprendizes.

#6 Moonrise kingdom (Anderson, 2012) 7,5/10
sinfonia dos desajustados familiares.

#7 Os Pássaros (Hitchcock, 1963) 10/10
do desejo e seus pecados, punidos por bicadas.

terça-feira, dezembro 11, 2012

Rogério Duarte sobre o Tropicalismo

"A essência do Tropicalismo era um desejo amoroso de modernidade para o Brasil. Era todo um ponto de vista que estava, e continua, reprimido e que naquele momento histórico a gente pôde veicular. Foi um momento de êxtase, de
 criatividade real e que alimentou e alimenta até hoje este país. Foi talvez o movimento mais moderno do Brasil no sentido de que ele era um movimento ligado a uma civilização contemporânea e de massas, sem ranços, sem compromissos ou peias ideológicas com facções de esquerda, ou de direita. Era a própria inteligência brasileira se manifestando, num momento de consciência, de lucidez e de paixão por esse país. Era também um momento em que uma potencialidade brasileira se apresentou. (...) Aquilo foi um flash de uma possibilidade histórica. Havia um elemento de desrepressão que só as pessoas que estavam quase que fatalizadas para deflagrá-la entenderam. As outras acabaram ficando naquele negócio de ‘cuidado com o porralouquismo’.

Havia uma espécie de superego ideológico que impedia uma compreensão real. Um movimento desses tem seu aspecto formal e sua linguagem. Essa linguagem não foi partilhada ou sequer compreendida. Eu me lembro que quando começamos a usar roupas tropicalistas as pessoas diziam que éramos empregados da Rede Globo. (...) Nós não fomos compreendidos pela ‘intelligentzia’. Nós fomos aceitos pela massa através dos festivais. Foi aí que o movimento explodiu. Porque falávamos a linguagem da massa. Essa é a força do movimento de Caetano, desse pessoal que entrou e ‘invadiu os cinco mil alto-falantes’, como ele mesmo diz.

No momento em que se deflagra um movimento revolucionário, aquele processo traz no seu bojo mil impurezas, mil coisas que às vezes nós próprios nos escandalizávamos e tentávamos voltar atrás um pouco, ou seja, ficávamos com medo. Foi o preço que o Tropicalismo pagou por ter que ser traduzido para uma linguagem de massa e ter sido vulgarizado. (...) Mas o Tropicalismo se comunica: "O bem e o mal têm medo da maçã". A gente veio para ter uma discussão moral mais profunda. onde as valorizações tradicionais de bom gosto, mau gosto, de macho e fêmea, tudo isso foi jogado por terra de uma vez através do exemplo nosso, pessoal.

Aquela revolução foi abortada como quase todas as revoluções."



("Tropicaos")