Do Desastre ao Triunfo

variação, ondulação e vibração.

segunda-feira, junho 06, 2011

Além da vida

Em "Invictus", Nelson Mandela revisita a prisão em que passou anos de vida e nela vê espíritos dos seus ex-companheiros de cárcere. Tal exploração do espiritismo é colocado com tanta sensibilidade que vejo como covardia acusar pejorativamente Clint Eastwood de manipulador sentimentalóide. Essa acusação, no entanto, reincide sobre ele de maneira mais enfática em seu novo filme "Além da vida", que extrapola a temática espiritual e melodramática. Fugindo dessa visão que me parece muito estreita e desprovida de sensibilidade, "Além da vida" se destaca de maneira muito característica dentro da obra humanista de seu diretor. Ao dividir seu núcleo narrativo em três tramas principais, Eastwood tem mais espaço para exibir todo o virtuosismo da sua direção metódica e ética. Esta palavra é cara ao se tratar do grande tema de seu cinema, a morte, que aqui tem a liberdade de se expandir em tons sobrenaturais e místicos. A coisa é pesada: uma jornalista fica obcecada com sua experiência de quase-morte após ser vítima de um tsunami; um garoto novo se vê perdido na vida após a morte de seu irmão gêmeo; e um médium, capaz de conversar com mortos, vê seu dom como um fardo difícil de lidar. Não me interessa mais nada. Só mesmo a sobriedade de Eastwood ao desfilar sua estilosa câmera intimista sobre maravilhosas pessoas e espaços e tornar a conexão entre eles ao mesmo tempo sutil e poderosa. O mais importante: era preciso esse roteiro torto estar nas mãos dele e não nas de quem poderia reduzir tudo a um sentimentalismo forçado e lacrimogêneo.

"Além da vida" (Hereafter, Clint Eastwood, EUA, 2010). 8/10

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