Do Desastre ao Triunfo

variação, ondulação e vibração.

quarta-feira, fevereiro 09, 2011

Um lugar qualquer

Há quem diga que podemos resumir a obra de Sofia Coppola na temática "ricos entediados". Das patricinhas de Michigan ("As virgens suicidas"), passando pelo casal eventual Bill Murray e Scarlett Johansson ("Encontros e desencontros") e pela última rainha da França ("Maria Antonieta"). A questão é se essa espécie de marca autoral é um demérito a princípio. Com seu novo filme, Sofia invade com sua câmera intimista a privacidade de um ator, mostrando suas andanças por hotéis, seus relacionamentos sexuais e a relação que tem com sua filha. Como uma estudante aplicada do cinema contemporâneo, Sofia demonstra que entediar o espectador é a melhor forma de fazê-lo sentir as angústias de seus personagens. Os pequenos acontecimentos, que seriam desprezados na montagem de um típico filme hollywoodiano, têm aqui sua importância maior. Da simplicidade à profundidade. Será? Vejamos, é louvável Sofia fugir dos psicologismos baratos do cinema mais "narrativo" e focar no "nada acontecendo" que tem a finalidade master de compreensão e identificação com a trama. Ok. Da minha parte, não exijo mais que isso mesmo. E com sensibilidade e paciência, vamos mesmo se encantar com os mais diversos momentos de "Somewhere" (listo alguns: cena inicial mezzo "Paris, Texas" mezzo "The brown bunny", a patinação da menina ao som de "Cool" da Gwen Stefani, a máscara, a menina cozinhando, o sorvete com Friends dublado em italiano e, principalmente, a espécie de mini-clipe com "You only live once" dos Strokes e o desabafo da filha). Agora, por favor, Sofia, não me venha com cenas de pura chantagem emocional, como aquela em que você humilha seu protagonista, tira dele toda a força, fazendo-o ligar ressentido para a ex-mulher. Golpe baixo.
Sofia incorporou Chantal Akerman ("Jeanne Dielman" foi inspiração pro filme) e achou que dilatar ainda mais "Encontros e desencontros" seria o suficiente para fazer outra obra-prima. Valeu pela radicalidade e pelo prêmio em Veneza (dado pelo ex-namorado Tarantino – nepotismo, quem falou?), mas ficou devendo.

"Um lugar qualquer" (Somewhere, Sofia Coppola, EUA, 2010). 6/10

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