Do Desastre ao Triunfo

variação, ondulação e vibração.

domingo, janeiro 11, 2009

os melhores do festival de 2008

"Haha" é uma boa maneira de começar um post sobre um festival que já data do outro ano (fazer diferenças temporais por anos - mesmo considerando que ainda estamos em janeiro - é mais impactante). Mas, para responder uma vontade minha de fazer as coisas que quero indepedentemente do tempo que já se passou, lá vamos lá realizar um balanço para lá de atrasado do último festival de cinema do Rio.

Foram duas semanas de corre-corre, encontros e desencontros, discussões, atrasos, "mata-aulas" (o lado responsável não me deixava exceder nesse ponto) e o resultado foi 36 longas vistos e uma infinidade de não vistos, como já é rotineiro para cinéfilos perdidos nesse mar de películas que incendeiam os festivais (!). Antes do que mais importa vamos deixar claro o que não foi visto que poderia determinar substancialmente uma mudança na lista final e que por isso a justifica como assim está. Em categorias:

Na quase-certeza/esperança de uma estréia no maravilhoso circuito carioca (alguns, hoje, já vistos, alguns possíveis clássicos que foram preteridos por filmes mais "obscuros" na dura escolha do que ver): Glória ao Cineasta de Takeshi Kitano, A Onda de Dennis Gansel, Gesto Obsceno de Itshak "Tzahi" Grad, Happy-Go-Lucky de Mike Leigh, Na Mira do Chefe de Martin Mcdonagh, Gomorra de Matteo Garrone, Queime Depois de Ler dos Coen, Che de Steven Soderbergh, O Casamento de Rachel de Jonathan Demme, Cinzas do Passado Redux de Wong Kar-Wai, Terra Vermelha de Marco Bechis, Sinédoque, Nova Iorque de Charlie Kaufman, Rebobine Por Favor de Michel Gondry, Procedimento Operacional Padrão de Errol Morris, Katyn de Andrzej Wajda, O Silêncio de Lorna dos Dardennes, Adoração de Atom Egoyan, Waltz With Bashir de Ari Folman, Vicky Cristina Barcelona de Woody Allen, Um Conto de Natal de Arnaud Desplechin, A Fronteira da Alvorada de Philippe Garrel, Titãs - A vida até parece uma festa de Branco Mello e Oscar Rodrigues Alves, A Festa da Menina Morta de Mathes Nachtergaele, Feliz Natal de Selton Mello, Juventude e Todo Mundo Tem Problemas Sexuais de Domingos Oliveira, Se Nada Mais Der Certo de José Eduardo Belmonte, Pan-Cinema Permanente de Carlos Nader, Romance de Guel Arraes, A Erva do Rato de Julio Bressane, Leonera de Pablo Trapero e Ninho Vazio de Daniel Burman.

Cancelamentos imperdoáveis: Gake no ue no Poniyo de Hayao Miyazaki (tinha que passar dublado? oi?), Blue de Derefk Jarman, Fome de Steve Mcqueen e 35 Doses de Rum de Claire Denis.

Perdas inconsoláveis: Sad Vacation de Shinji Aoyama, Canção de Baal de Helena Ignez, Segurando as Pontas de David Gordon Green, O Bom, o Mau e o Bizarro de Kim Jee-Woon, Velha Juventude de Francis Ford Coppola, Quatro Noites com Anna de Jerzy Skolimowski, Om Shanti Om de Farah Khan, Na Guerra de Bertrand Bonello, Vocês, os Vivos de Roy Andersson, O Céu, a Terra e a Chuva de José Luis Torres Leiva e a sessão especial de O Segredo da Múmia do Ivan Cardoso.

Perdas mais-ou-menos superáveis: filmografias do Masahiro Kobayashi, do Derek Jarman, dos irmãos Taviani, de Arturo Ripstein, a mostra "Divas Italianas", Amor e Honra de Yoji Yamada, Intimidades de Shakespeare e Victor Hugo de Yulene Olaizola, Gonzo de Alex Gibney, Mataram a Irmã Dorothy de Daniel Junge, Ballast de Lance Hammer, Puffball de Nicolas Roeg, Confidencial de Peter Galison e Robb Moss, As águas de Katrina de Tia Lessin e Carl Deal, Boogie de Radu Muntean, Versalhes, Pierre Schoeller, Garage de Lenny Abrahamson, Walt Disney & El Grupo de Theodore Thomas, O Frango, o Peixe e o Carangueijo Real de José Luis López-Linares, Doidão de Jonathan Levine, O Homem que Anda de Aurélia Georges, Fomos à Terra dos Sonhos de Guo Xiaolu, E Buda Desabou de Vergonha de Hana Makhmalbaf, Sob Controle de Jennifer Lynch, Patti Smith: Sonho de Vida de Steve Sebring, Joe Strummer: O Futuro está para ser Escrito de Julien Temple, Call Girl de António-Pedro Vasconcelos, Cavalo de Duas Pernas de Samira Makhmalbaf, Maio de 68, a Bela Obra de Arte de Jean-Luc Magneron, Caos de Youssef Chahine e Khaled Youssef, Mais Tarde, você vai entender... de Amos Gitai, Delta de Kornél Mundruczó, Expresso Trans-Siberiano de Brad Anderson, Praça Saens Peña de Vinícius Reis, Abaixando a Máquina de Guillermo Planel e Renato de Paula, Jards Macalé - Um Morcego na Porta Principal de Marco Abujamra, Loki - Arnaldo Baptista de Paulo Henrique Fontenelle, Os Bastardos de Arnat Escalante, O Sangue Brota de Pablo Fendrik, Acne de Federico Veiroj, Sleep Dealer de Alex Rivera, O Lar de Ursula Meier, This is England de Shane Meadows, M - Vidas Duplas de Ryuichi Hiroki, Choke de Clark Gregg, Cloud 9 de Andreas Dresen, Desonra de Steve Jacobs, Il Divo de Paolo Sorrentino, Um Segredo de Claude Miller, Todos os Meus Fracassos Sexuais de Chris Waitt, A Batalha de Haditha de Nick Broomfield, Sanguepazzo de Marco Tullio Giordana e Encarnação de Anahí Berneri.

Fugas propositadas: Eu sou porque nós Somos de Nathan Rissman, Sereia de Anna Melikyan, A Guitarra de Amy Redford, 14 Quilômetros de Gerardo Olivares, O Menino de Pijama Listrado de Mark Herman, A Duquesa de Saul Dibb, O Roqueiro de Peter Cattaneo, Um Homem Bom de Vicente Amorim, Rock'n Rolla de Guy Ritchie, Sujos e Sábios de Madonna, Fatal de Isabel Coixet e A Guerra dos Rocha de Jorge Fernando.

E os vistos, na ordem do pior para o melhor, que fica mais emocionante:

36. MINHA MÁGICA (My Magic, Eric Khoo, Cingapura, 2008)
Mágica mesmo, mas aquela daqueles circos bem vagabundos de cidade do interior onde, continuando na analogia, todo mundo percebe os truques facilmente. Piegas, aborrecido e sem a dosagem emocional que o filme tanto clama. Ainda bem que é curto.

35. SUKIYAKI WESTERN DJANGO (Takashi Miike, Japão, 2007)
Miike, dessa vez eu achei seu filme bem chatinho, abraços.

34. BEFORE THE RAINS (Santosh Sivan, Índia/Inglaterra/EUA, 2007)
Um tiro no escuro. Que acertou bem na cabeça. Filme mais do que convencional, com a visão ocidental dos problemas orientais mostrados com aquele velho exoticismo que aparenta ser boa-praça mas na verdade esconde um panorama torpe e desonesto. Vale pelas imagens da Índia? Então bora ver "Caminho das Índias"...

33. A RAIVA (La Rabia, Albertina Carri, Argentina, 2008)
A Albertina tem noção do que está filmando e dá pra perceber logo que seu mise-en-scene é preciso e consegue cenas muito bonitas. O problema aqui além do roteiro é a aparente necessidade vital de fazer jus ao título do filme do modo menos sutil possível. Falta sutileza visual e narrativa - um exemplo: o final fatalista não funciona devido sua gravidade pré-fabricada. Isso para não falar da execução do porco (que a garota do meu lado não queria mais olhar - chocante, sim... mas para que exatamente?)

32. OS SETE DIAS (Shiva/Seven Days, Ronit & Shlomi Elkabetz, Israel/França, 2008)
Mil momentos de sofrimento, quase uma obra dantesca. Mas a tragédia para funcionar precisa de uma evolução dos seus caracteres para justificar suas catarses. Não me lembro porque, mas não é o que acontece neste.

31. ALEXANDRA (Aleksandra, Aleksandr Sokurov, Rússia/França, 2007)
O Sokurov não mudou com seu cinema hermético e contemplativo. A minha paciência com ele é que tem diminuindo. É, tô começando a me convencer que o cinema do russo não me interessa muito, tirando partes pontuais de suas obras. Até a capacidade técnica está difícil de engolir, uma vez que ela vem pra justificar um cinema supostamente transgressor, mas de um academicismo hipócrita e auto-complacente que incomoda apesar das belas imagens que por ventura capta. Mas a atuação da Galina Vishnevskaya é uma coisa de louco, hein?!

30. SENTIDOS À FLOR DA PELE (Evaldo Mocarzel, Brasil, 2008)
Personagens mais ou menos interessantes comprovam que este tipo de documentário necessita não de artifícios que justifiquem seu fim, mas prioritariamente de pessoas que sustentem um bom discurso. Não é o que acontece aqui. Documentário sobre cegos honesto, mas tão desinspirado que a melhor idéia é dada por um dos seus personagens quando este sugere, sendo cego, filmar sua mulher. O resto é convencional o bastante para entrar no Globo Repórter.

29. CORDEIRO DE DEUS (Cordero de Dios, Lucía Cedrón, Argentina/França, 2008)
Um pequeno e sensível retrato sobre como relações familiares são afetadas com a política que funciona melhor quando não tenta ser verborrágico e pedante.

28. DEREK (Isaac Julien, Inglaterra, 2008)
Bonita homenagem ao diretor marginal Derek Jarman roteirizada por sua atriz-fetiche Tilda Swindon... talvez fosse melhor se não tentasse ser tão bonito assim (algumas partes são pesadamente melodramáticas).

27. CRITICO (Kleber Mendonça Filho, Brasil, 2005)
Muito bem editado, mas não muito atrativo. Vale bastante pelas declarações de Gus Van Sant e Tom Tykwer e de suas relações com a crítica, mas não funciona muito bem como um filme individual.

26. O ÚLTIMO REDUTO (Dernier Maquis, Rabah Ameur-Zaïmeche, França/Argélia, 2008)
Não lembro muito deste. Sei que é um retrato bem realista da França cosmopolita centrado em um microcosmo islâmico utilizando planos belíssimos.

25. SOBRE O TEMPO E A CIDADE (Of Time and the City, Terence Davies, Inglaterra, 2008)
Não chega a impressionar realmente, mas vale pela honestidade e delicadeza na representação de uma Liverpool pessoal, para além dos padrões convencionais dos documentários. Neste eu entendo tudo: tanto quem odiar (pela declamação sobrecarregada) quanto quem amar (pelo lirismo e poesia). Mas não vou defender ninguém.

24. TRAQUINAGENS (Sztuczki/Tricks, Andrzej Jakimowski, Polônia, 2007)
Tão belamente fotografado que a historinha do menininho cheia de truques (ehe) narrativos, com uma manipulação digna de Amelie Poulain, nem chega a incomodar.

23. O RENASCIMENTO (Ai no yokan/The Rebirth, Masahiro Kobayashi, Japão, 2007)
Quando a protagonista fritava pela 10º vez um ovo, nas mesmas posições: dela e do plano estático, lá pro final do filme, a platéia não se aguentou de rir. E o que era para ser visto como um retrato de entediantes vidas que o Kobayashi insiste em relatar se transformou num filme de comédia involuntária transvestido de cinema de arte. Eu não ria, mas entendia os risos. Entretanto, me pergunto porque ainda me comovo com esses tipos de recursos fáceis do cinema independente; gostei do filme.

22. A ARTISTA ESTRELA E OS GÊMEOS DO SUDÃO (The Art Star and The Sudanese Twins, Pietra Brettkelly, Nova Zelândia, 2007)
Daqueles documentários que se centram num só personagem, mas nem por isso o glorificam, todavia também não o depreciam. Imparcialidade; é o nome. Ou quase isso. Nessa condição, partindo do princípio que não existe o preto-ou-branco, as contradições do discurso e das intenções da artista que quer adotar dois gêmeos sudaneses de uma família miserável fica muito mais evidente e elegantemente denotadas. Altruísmo ou oportunismo? Vale tudo pela arte? Inclusive passar de pressupostos ético-culturais baseando-se numa visão eurocêntrica do mundo não muito distante do pensamento colonial? Olha que o filme não vai te dar muitas respostas.

21. A MULHER SEM CABEÇA (La Mujer Sin Cabeza, Lucrecia Martel, Argentina/Itália/França/Espanha, 2008)
Achar apenas muito bom um filme de Lucrecia Martel decepciona quem buscava encontrar algo do nível de O Pântano ou Menina Santa. A raiz, ao menos, é a mesma: núcleo burguês atormentado/modificado por algo misterioso que evidencia discretamente sua engrenagem de poder e dominação. Aqui, talvez, o excesso de virtuosismo e depuração técnica pretensiosa não se equilibrou da melhor maneira com o que se queria relatar. Ainda assim, muito bom.

20. HOMEM EQUILIBRISTA (Man on Wire, James Marsh, Inglaterra/EUA, 2008)
O que mais me impressiona no filme, é a capacidade, digna dos melhores documentários, de manter uma atmosfera de suspense mesmo quando já sabemos qual será o final da história.

19. WITTGENSTEIN (Derek Jarman, Inglaterra/Japão, 1993)
Filosofia para newbies indies.

18. GUERRA SEM CORTES (Redacted, Brian De Palma, EUA/Canadá, 2007)
Um DePalma polêmico. Mais um.

17. AQUILES E A TARTARUGA (Achilles to kame/Achilles and the Tortoise, Takeshi Kitano, Japão, 2008)
Da comédia ao drama sem cair.

16. IMPORT/EXPORT (Ulrich Seidl, Austria, 2007)
Mundo pitbull.

15. LIVERPOOL (Lisandro Alonso, Argentina/França/Holanda/Alemanha/Espanha, 2008)
Hermético e belo.

14. TÔKYÔ SONATA (Kiyoshi Kurosawa, Japão/Holanda/Hong Kong, 2008)
Crônicas de uma família disfuncional.

13. CSNY: DÉJÀ VU (Neil Young, EUA, 2008)
Viajando junto com um dos melhores grupos. Plus: atitude política versus admiração pela música.

12. WONDERFUL TOWN (Aditya Assarat, Tailândia, 2007)
Influência (na minha apreciação) de Apichatpong.

11. DESONRA (Bashing, Masahiro Kaboyashi, Japão, 2005)
Ver O Renascimento, com o acréscimo de um tema mais político.

10. INÚTIL (Wuyong/Useless, Jia Zhang Ke, China/Hong Kong, 2007)
A prova definitiva que Jia é um dos grandes... ao se adentrar no mundo documentário mantém seu estilo estético e conceitual (a questão do regresso à natureza, por exemplo). Como é mais um diretor de brilhantes cenas, uma: chinesas ricas conversando sobre roupas e acessórios - sutiliza na hora de codificar (futilidade, vaidade), apenas com o uso da câmera e da edição.

09. ANO UNHA (Año Uña, Jonás Cuarón, México, 2007)
Ninguém dá a mínima para esse filme. Só minha nostalgia da adolescência. Mas, por favor, há de se reconhecer o uso experimental de fotos no lugar das imagens em movimento.

08. SIMONAL - NINGUÉM SABE O DURO QUE DEI (Cláudio Manoel, Micael Langer & Calvito Leal, Brasil, 2008)
À altura do grande artista.

07. NOITE E DIA (Bam Gua Nat/Night and Day, Hong Sang-soo, Coréia do Sul, 2008)
Sang-soo trabalha com profundidade dentro das subjetividades humanas. Mestre.

06. [REC] (Jaume Balagueró & Paco Plaza, Espanha, 2007)
Bu!

05. SOL SECRETO (Milyang/Secret Sunshine, Lee Chang-dong, Coréia do Sul, 2007)
Melodrama redondo.

04. A VIAGEM DO BALÃO VERMELHO (La Voyage du Ballon Rouge, Hou Hsiao-hsien, França, 2007)
Doçura infantil nipo-francesa para uma Binoche a ponto de explodir.

03. AQUELE QUERIDO MÊS DE AGOSTO (Miguel Gomes, Portugal/França, 2008)
OVNI brega.

02. NA CIDADE DE SYLVIA (En La Ciudad de Sylvia, José Luis Guerín, Espanha, 2007)
Reacende o exercício e o prazer de olhar.

01. LES AMOURS D'ASTRÉE ET DE CELÁDON (Eric Rohmer, França/Itália/Espanha, 2008)
Talvez o filme definitivo sobre a Estética, a Filosofia da Arte e a apreciação do Belo. Preciosidade... fotografia das mais belas; a perfeição do corpos; as leis morais...

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É o fim



Mais um cinema de rua que se vai depois do Paissandu e do Palácio: o Estação Paço. O curioso é o site dos cinemas da Estação ignorar solenemente o fato, restando apenas essa pequena imagem no cache do google e nada mais; como se o cinema nunca tivesse existido.

Daqui a uns anos vamos contar para netos estupefatos que um dia já se teve um cinema que não fosse aquele do 8º andar do shopping.

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